No entanto, desatinada, a violência continua! (...)
Estamos cada dia mais solitários, e em nossa solidão, ou monologamos, caindo na exasperação, ou escolhemos o anonimato, o mutismo. (...)
Os eternos comentários sobre novela, futebol, jogos e entretenimentos superficiais, improdutivos. (...)
Passou o Natal -- cheio de promessas, presentes e boas intenções... Mas continuamos pensando e agindo do mesmo jeito: o presente mais caro para o mais rico, o mais famoso, aquele que nos renderá mais créditos...
E esquecemos que o melhor presente é amor; é troca de amor. (...)
Que amor é diálogo, mesmo insípido, com os velhinhos repetitivos. (...)
Esquecemos que amar é chorar com os que choram, é rir com os que riem, sonhar com os que sonham, ouvir mais as pessoas!
É amar melhor as crianças, conversar mais com elas (...) Pois elas já nasceram com ilusões, mas estão hoje tão desiludidas, tão rebeldes, tão envelhecidas!
Por nossa causa -- nós, os adultos, que só temos reprimendas, castigos impulsivos, indiferença, gritos, queixas, palavras ásperas, mau exemplo (...) Nós que não temos tempo sequer para inventar-lhes um bom programa, sair com elas, propiciar-lhes alegres férias; ou ler-lhes algo interessante, voltando ao meigo tempo dos contadores de história.
Menino Jesus, perdoa a violência, perdoa o egoísmo e o desamor! (...)
Inverte este tempo!
Dê-nos um outro ano -- às avessas --, sem correrias, sem pressa.
Com silêncio, com amor, muito amor!"
Allinges Lenz César Mafra
"Ano Novo às avessas"
(ed. 250 -- jan. 1998)